Por:
Maria Salete Rangel
|
foto
1
Além
de conter alto teor
de vitamina A e C, cálcio,
ferro e fósforo, a planta
pode ser usada como
purificador da água.
|
A
Moringa oleifera pertence à família Moringaceae,
que é composta apenas de um gênero (Moringa) e quatorze
espécies conhecidas. Nativa do Norte da Índia, cresce
atualmente em vários países dos trópicos.
É um arbusto ou árvore de pequeno porte, de crescimento
rápido, que alcança 12m. de altura. Possui uma copa
aberta, em forma de sombrinha e usualmente um único tronco
( foto 1). As flores que emergem em panículas, ( foto 2)
são
de cor creme, perfumadas, muito procuradas pelas abelhas.
A planta é conhecida por vários nomes comuns, de
acordo com os diferentes usos. Para alguns, é conhecida
como 'baqueta' em razão da forma dos seus frutos (foto
3) que representam um alimento básico na Índia e
na África. Em algumas partes do oeste da África,
é conhecida como "a melhor amiga da mãe"
como uma indicação de que a população
local conhece muito bem todo o seu valor. A planta produz uma
diversidade de produtos valiosos dos quais as comunidades locais
fazem uso por centenas, talvez milhares de anos.
Os
frutos verdes, folhas, flores e sementes torradas são altamente
nutritivos e consumidos em muitas partes do mundo. O óleo
obtido das sementes da Moringa pode ser usado no preparo de alimentos,
na fabricação de sabonetes, cosméticos e
como combustível para lamparinas. A pasta resultante da
extração do óleo das sementes pode ser usada
como um condicionador do solo, fertilizante ou ainda na alimentação
animal. Na Índia, todas as partes da planta são
usadas na medicina natural, porém, a química e a
farmacologia das diferentes partes da planta são ainda
pouco conhecidas. Em virtude da falta de dados científicos
referentes às propriedades medicinais da planta nenhuma
recomendação de uso pode ser feita neste sentido.
A Moringa pode ser facilmente propagada por sementes ou por estacas.
As sementes podem ser plantadas diretamente no local definitivo
ou em sementeiras. Não há necessidade de nenhum
tratamento prévio. A planta requer poucos tratos culturais
e cresce rapidamente até uma altura de 4m. no primeiro
ano. Em condições favoráveis, uma única
planta pode produzir de 50 a 70 kg de frutos/ano. É uma
das plantas mais úteis para a as regiões semi-áridas.
Na Índia e na África, a Moringa é encontrada
crescendo em áreas próximas à cozinha e em
quintais, onde as folhas são colhidas diariamente para
uso em sopas, molhos e saladas. Possuem um alto conteúdo
de proteína (27%) e são ricas em vitamina A e C,
cálcio, ferro e fósforo. Nas regiões secas,
o cultivo da Moringa é vantajoso uma vez que suas folhas
podem ser colhidas quando nenhum outro vegetal fresco está
disponível. As flores, só devem ser consumidas cozidas,
fritas na manteiga ou misturadas a outros alimentos. Os frutos
verdes são também muito nutritivos, contendo todos
os aminoácidos e são preparados de forma similar
às ervilhas verdes, possuindo um sabor próximo ao
dos aspargos.
A análise bromatológica das sementes de Moringa,
realizada no Laboratório de Nutrição Animal
da Embrapa Tabuleiros Costeiros, mostrou teores de 26% de óleo,
27% de proteína e 44% de digestibilidade. Para o resíduo
das sementes após a extração do óleo,
o teor de proteína subiu para 34% e a digestibilidade para
56%. Estes resultados são bem promissores quando se visa
o uso do resíduo das sementes na nutrição
animal.
PURIFICADOR NATURAL
Em alguns países em desenvolvimento, a água dos
rios utilizada para consumo humano e uso doméstico em geral,
pode ser altamente túrbida, particularmente na estação
chuvosa, contendo material sólido em suspensão,
bactérias e outros microrganismos. A cada ano, milhões
de crianças poderão morrer nesses países,
vítimas de infeções causadas por água
impura. É necessário que se remova a maior quantidade
possível desses materiais antes de usá-la para consumo.
Normalmente isso é obtido pela adição de
coagulantes químicos, dentro de uma seqüência
de tratamento controlado. Coagulantes químicos, tais como
o sulfato de alumínio, às vezes não estão
disponíveis a um preço razoável para as populações
dos países em desenvolvimento. Uma alternativa é
o uso de coagulantes naturais, geralmente de origem vegetal, para
promover a coagulação de tais partículas.
As descobertas recentes do uso de sementes trituradas de M.
oleifera para a purificação de água,
a um custo de apenas uma fração do tratamento químico
convencional, constitui uma alternativa da mais alta importância.
Em relação à remoção de bactérias,
reduções na ordem de 90-99% têm sido relatadas
na literatura. Deve ser observado, porém, que o uso do
tratamento com sementes, assim como o de outros coagulantes naturais
e químicos, não produz água purificada. O
risco de infecção pode ser altamente reduzido e
a água passa a ser considerada potável. Portanto,
alguma forma de desinfecção, tal como fervura, é
recomendada.
Em um projeto piloto para tratamento de água em Malawi,
na África, foi constatado que enquanto o alumínio
é eficiente como coagulante apenas em uma faixa restrita
de níveis de pH da água a ser tratada, as sementes
de Moringa atuam independentemente do pH, constituindo-se em uma
vantagem a mais em países em desenvolvimento, onde normalmente
não é possível controlar efetivamente o pH
antes da coagulação. Tais sementes podem ser usadas
no tratamento de água, abrindo possibilidades que asseguram
que os países emergentes possam ter água saudável,
limpa e potável e para o uso doméstico. Poderão,
sem duvida, se transformar numa solução para reduzir
a incidência de doenças provocadas por água
impura, que representam uma das principais causas que levam à
alta incidência de morte.
Há relatos, na literatura, da introdução
de M. oleifera em alguns estados do Brasil a partir de 1950. Porém,
como o seu potencial não era bem conhecido, a planta foi
usada apenas como ornamental.
A Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Aracaju, Sergipe, em um trabalho
pioneiro, vem realizando um estudo preliminar com plantas de
M. oleifera, relativo ao seu comportamento nas condições
climáticas da região. O interesse pela potencialidade
da planta vem crescendo consideravelmente na comunidade e um programa
de produção de mudas já está em andamento.
O plantio de mudas de M. oleifera nas estações experimentais
deste Centro também já foi iniciado para que se
constituam bancos de semente de futuros de programas de aproveitamento
da planta como fonte de alimento e purificador natural de água
para as populações das áreas sujeitas à
secas.
Maria Salete Rangel
é bióloga e pesquisadora da Embrapa - Tabuleiros
Costeiros - Aracajú - SE
|