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Coentro: a erva da imortalidade
Por: Rose Aielo Blanco*
Na época do descobrimento do Brasil, os portugueses conheceram diversas variedades de coentro – que os indígenas chamavam inhambi e o consumiam puro, ao natural, não como tempero, mas como um alimento. Segundo consta, as variedades européias do coentro foram trazidas pelos colonizadores e adaptaram-se perfeitamente ao clima brasileiro, tanto que o coentro se tornou um dos temperos mais populares da nossa culinária, muito utilizado no Norte e Nordeste para temperar pratos à base de peixe. Mas não são apenas os nordestinos que conhecem as virtudes desta erva, prova disso é a famosa “moqueca capixaba”.
A palavra coentro é originária do grego “koris” que significa “cheiro de percevejo” pois, para muitos, as folhas e frutos exalam um odor bem desagradável enquanto a planta não amadurece por completo, lembrando o cheiro daquele inseto.
Para os povos antigos da China e do Egito, a erva tinha poderes mágicos: suas sementes guardavam o “segredo da imortalidade” e, por isso, eram colocadas nos túmulos dos nobres egípcios para ajudar a alma a encontrar seu “caminho eterno”. O outro lado mágico do coentro está ligado ao amor: para os árabes, as sementes possuíam um poderoso efeito afrodisíaco, capaz de despertar violentas paixões. Uma receita de vinho tinto com sementes de coentro chegou a ganhar fama de verdadeira “poção do amor”.
O coentro (Coriandrum sativum) é uma erva utilizada desde tempos remotos. Para se ter uma ideia, a planta é citada no Velho Testamento, pois era usada junto com o vinagre para conservar carnes. Além de condimento, o coentro era utilizado como medicinal – o próprio “pai da medicina”, o grego Hipócrates, deixou registrado seu uso como medicamento, pelas propriedades antiespasmódicas e digestivas.
Na medicina antiga, o coentro era visto de forma muito contraditória: enquanto para uns tratava-se de uma planta muito venenosa, para outros, era um potente remédio capaz de curar males como epilepsia e até acalmar as dores do parto. Alguns afirmavam que o coentro era um poderoso estimulante e afrodisíaco, mas outros defendiam que, na verdade, era um ótimo calmante. Mas uma coisa é certa: esta planta não era nem um pouco ignorada.
Existem registros que comprovam seu uso de formas até difíceis de acreditar. Na Suécia, por exemplo, lá no passado, o coentro era utilizado junto com outros ingredientes na preparação de um impressionante tônico chamado “aqua hiruninum” ou “água de andorinha”. Vejam só que o que compunha este tônico: lírio-do-vale, peônia, baga de sabugueiro, tília, coentro, noz-moscada, cubeba e visgo, tudo destilado junto com 24 filhotes de andorinha vivos! Essa asquerosa mistura também era recomendada como medicamento para combater inflamações da garganta. O costume persistiu até por volta de 1757 quando, finalmente, uma lei oficial do governo sueco eliminou o “medicamento” da farmacopéia.
Cultivo
O coentro é uma planta herbácea da família das Umbelíferas, cuja altura média varia de 25 a 60 cm. As folhas são de cor verde brilhante, alternadas e fendidas nas bordas. Na base da planta, as folhas são muito parecidas com as da salsa e no alto, lembram mais as folhas do funcho. A floração ocorre entre a primavera e o verão, quando surgem as flores pequenas, brancas ou róseas, e delas se formam os frutos redondos, com cerca de 1,5 a 5 mm de diâmetro. A raiz do coentro é cônica, perpendicular, fibrosa e pode ser consumida na alimentação depois de cozida.
Conhecido como um dos melhores do mundo, o fruto do coentro pequeno da Rússia mede apenas 1,5 a 2,5 mm de diâmetro e possui um teor de óleo essencial entre 0,8 a 1%.
A planta se propaga por meio de sementes – plantadas de preferência no final da primavera - ou por divisão de touceiras e, neste caso, pode ser plantado o ano inteiro. Seu cultivo pode ser feito em vasos ou jardineiras, desde recebam sol pleno. A planta produz melhor em solos ricos em matéria orgânica, bem soltos e drenados, não sendo recomendado o plantio em solo muito úmido e ácido. Tolera bem tanto o calor como o frio, bem como curtos períodos de seca – o ideal é regar a planta sempre que o solo se mostrar seco. Embora rústico, o coentro não consegue competir com ervas daninhas, sendo sempre importante eliminá-las para obter sucesso no cultivo.
A colheita pode ser feita cerca de 50 a 60 dias após a semeadura. No caso dos frutos, após colhidos, devem ser colocados para secar ao sol.
Usos e Magia
As partes mais usadas da planta são as folhas, talos e frutos maduros (vulgarmente chamados de sementes). O aroma acentuado e característico do coentro concentra-se em suas folhas verdes e frescas, que devem ser conservadas sob refrigeração para maior durabilidade. À medida que a planta seca, o odor acentuado vai desaparecendo, de forma que folhas e frutos se tornam suavemente perfumados.
O uso do coentro na culinária é bastante difundido. No Brasil, a erva entra no preparo de inúmeros pratos típicos (como a galinha de cabidela), especialmente aqueles à base de peixe. Na França, é usado para acompanhar vegetais brancos, como a couve-flor e o aipo. Na Alemanha, é adicionado na massa de pães e bolos, da mesma forma que o cominho.
A aplicação do coentro na medicina caseira explora bem a essência da planta que concentra diversas substâncias com propriedades estimulantes das funções digestivas, além de diuréticas e antiespasmódicas.
Já o óleo essencial da planta, aquecido levemente, costuma ser usado em massagens nas articulações, com a mesma finalidade.
Na Antigüidade, existia uma receita muito especial, preparada com as sementes ou frutos do coentro: reduzidos a pó, eram misturados com almíscar, açafrão e incenso. O resultado era uma poção considerada muito eficaz nas práticas de magia sexual.
Quanto à “poção do amor”, citada no início deste texto, nada garante que seus efeitos sejam verdadeiros, mas, segundo consta a receita manda aquecer um bom vinho tinto com um punhado de sementes de coentro. Dizem que é tiro e queda...
*Rose Aielo Blanco é jornalista e editora do site www.jardimdeflores.com.br
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