Babosa: a nova panacéia
Por:
Rose Aielo Blanco* De qualquer forma, a comunidade científica ainda não comprovou nada a respeito das conclusões do Frei Romano sobre a eficiência da babosa contra o câncer. Estudos já comprovaram que a babosa fortalece o sistema imunológico e tem ação anti-inflamatória e antiviral. Embora o uso da planta tenha sido aprovado nos Estados Unidos para testes em pacientes com Aids e câncer, desde 1994, ainda não foi divulgado nenhum resultado. Algumas pesquisas isoladas mostraram que os oligossacarídeos presentes na babosa ajudam a combater as células malignas, no entanto, concluiu-se também que seu consumo não deve ser indiscriminado, pois pode provocar dores abdominais, fortes diarréias (que os defensores do uso afirmam ser o efeito limpeza) e, em doses elevadas, pode causar até inflamação nos rins. O produtor Rogélio Dosouto conta que a procura pela babosa em seu viveiro de plantas aumentou subitamente. Interessado em saber mais a respeito dos poderes medicinais da babosa, o produtor resolveu estudar as referências existentes a respeito. Ele acredita que a planta realmente apresenta propriedades curativas impressionantes: Todas as referências bibliográficas que pesquisei indicam a espécie Aloe vera como possuidora de princípios ativos com potentes propriedades medicinais, explica Rogélio. As pesquisas indicam que as substâncias contidas na Aloe vera fortalecem o sistema imunológico com uma atividade antiviral, antitumoral e inclusive inibindo a multiplicação do vírus da Aids. As mesmas pesquisas mostram que os princípios ativos encontram-se no gel mucilaginoso das folhas da Aloe vera e não na casca da folha. Embora convencido dos poderes da babosa, o produtor lembra que o uso interno da planta deve ser feito com muita cautela, observando a reação individual de cada pessoa. Cautela com a ingestão da babosa também é a recomendação do professor Marcos Roberto Furlan, Mestre em Horticulticultura e especialista em plantas medicinais. Segundo Furlan, os principais componentes da babosa (aloína, aloeferon, aloetina e barbalodina) são os responsáveis pelas propriedades medicinais da planta que, além de cicatrizante, é utilizada como tônico digestivo e laxante. Mas ele adverte: como os componentes da babosa têm propriedades emenagogas (aumentam o fluxo sangüíneo), ela é contra-indicada na gravidez; além disso, em altas doses, a planta pode se transformar num purgativo drástico, sendo totalmente desaconselhável seu uso em crianças. As mesmas advertências são enfatizadas no Compêndio de Fitoterapia Herbarium, de Magrid Teske e Anmy M. Trentini: além da gravidez, seu uso é contra-indicado em casos de varizes, hemorróidas, afecções renais, enterocolites, apendicites, prostatites e cistites. O uso interno prolongado provoca hipocalemia, diminui a sensibilidade do intestino, necessitando aumento gradativo da dose, favorecendo o surgimento de hemorróidas. Em crianças os efeitos colaterais podem ser potencializados, tornando o uso interno extremamente perigoso. Enquanto cresce a discussão em torno da indicação da babosa para uso interno, por outro lado, é unânime o reconhecimento das propriedades da planta para uso externo. Sobre a pele, as substâncias contidas na babosa agem formando uma camada protetora e refrescante, com amplo uso cosmético e medicinal. Externamente, estas são as principais indicações de uso da babosa:
* No tratamento de queimaduras (fogo ou raios solares); acne, coceiras,
eczemas, erisipela, ferimentos difíceis de cicatrizar e picadas
de insetos; Para essas indicações, não é necessário nenhum tipo de preparado especial, basta cortar a folha da babosa e aplicar a polpa diretamente sobre a região a ser tratada. História e cultivo O nome Aloe vera seria originário do hebráico halal ou do arábico alloeh (= substância amarga, brilhante) e do latim vera (= verdadeira). Ao que tudo indica, ela é considerada uma planta poderosa há muito tempo. Antigos muçulmanos e judeus acreditavam que a babosa representava uma proteção para todos os males e, por isso, usavam as folhas até penduradas na porta de entrada da casa. Alexandre, o Grande, teria conquistado as Ilhas de Socotorá, no Oceano Índico (século IV a.C.), porque lá vegetava abundantemente um tipo de babosa que produzia uma tinta violácea. Há quem diga, entretanto, que na verdade, o conquistador conhecia os poderes cicatrizantes da babosa e seu principal interesse nas ilhas era ter plantas suficientes para curar os ferimentos dos seus soldados após as batalhas. Quanto às suas virtudes cosméticas, basta dizer que ao serem descobertos os segredos de beleza de Cleópatra, a polpa da babosa ocupava lugar de destaque. O que parece ser confirmado pela indústria atual, pois o ingrediente entra na fabricação de inúmeros cremes, loções bronzeadoras, shampoos, condicionadores, máscaras, etc. Existem centenas de espécies de babosa, a maioria de origem africana, pertencentes à Família das Lileáceas. As espécies mais conhecidas como medicinais são a Aloe vera, que nasce em forma de tufo e produz flores amarelas e a Aloe arborescens, que nasce em torno de um pequeno tronco e produz flores alaranjadas e vermelhas. Além da diferença na disposição das folhas, a Aloe arborescens apresenta espinhos mais proeminentes nas bordas das folhas. No seu livro, o Frei Romano Zago afirma que a espécie Aloe arborescens apresenta melhores resultados que a Aloe vera (barbadensis) - mais usada na indústria cosmética. Para ele, as propriedades medicinais encontram-se na folha toda e não apenas no gel, assim, como na arborescens o volume da casca é muito grande, há maior concentração de substâncias. Segundo o produtor Rogélio Dosouto, a babosa, (tanto a Aloe vera quanto a arborescens) desenvolve-se bem em qualquer tipo de solo, desde que seja bem drenado. Mas, precisa de pleno sol para se desenvolver bem. Além de medicinal, a babosa é muito ornamental: pode ser usada em jardins de pedra ou cultivada em vasos, por exemplo. Neste caso, o substrato ideal é uma mistura de 1 parte pó de xaxim, 1 parte de terra vegetal e 1 parte de areia. Para acelerar o desenvolvimento, após o plantio da muda e seu perfeito enraizamento, o produtor aconselha uma adubação com NPK 10-10-10, ao redor da planta. Após um ano ou quando a planta estiver bem desenvolvida, a recomendação é para usar NPK 4-14-8, também ao redor da planta, duas vezes ao ano. É interessante usar sempre um vaso grande (com no mínimo 20 cm de diâmetro), pois tanto a Aloe vera quanto a Aloe arborescens emitem brotações laterais que, após atingirem cerca de 15 cm., podem ser aproveitadas como mudas para a formação de outros vasos. Babosa, mel e cachaça Três ou quatro folhas de babosa (sem os espinhos e não lavadas, apenas limpas com um pano), meio quilo de mel e quatro colheres de cachaça (pode ser uísque, tequila, grappa ou conhaque) - tudo batido no liquidificador. Esta é a base da receita que ficou famosa com o livro do Frei Romano Zago (Editora Vozes), que ainda acrescenta outras recomendações: nada de usar plantas que tenham recebido aplicações de venenos ou que tenham ficado expostas à poluição (beira de estradas, etc.) e também não se deve usar a babosa em flor, pois as propriedades de suas folhas estão reduzidas, já que a planta dirige toda a sua energia para as flores. Onde mora o perigo: a receita é simples, mas é indicada na cura de doenças como câncer, alergias, asma, anemia, artrose, hemorróidas, furúnculos, feridas venéreas, infecções de bexiga, rins e próstata, reumatismo, úlceras, varizes e outras, além de frear o avanço da Aids. Mesmo que a pessoa não esteja com nenhum problema, a ingestão do preparado é indicada para fazer uma faxina no organismo e fortalecer o sistema imunológico. O perigo está em acreditar que quando se trata de plantas medicinais: se não faz bem, mal também não faz. O pensamento, além de arriscado, é totalmente equivocado, pois uma grande parte dos remédios comprados nas farmácia têm em sua fórmula substâncias extraídas de plantas - o que prova que seus efeitos foram comprovados pelos laboratórios - além disso, sabe-se que o uso interno e principalmente contínuo da babosa, sem acompanhamento médico, pode provocar graves reações orgânicas. Matéria publicada na Revista Tempo Verde - ed. 165 - dezembro/1998 * Rose Aielo Blanco é jornalista especializada em ervas medicinais, jardinagem, paisagismo, meio ambiente e editora do site www.jardimdeflores.com.br |