Consumo
sustentável: é possível
Os resultados de algumas pesquisas de
opinião e enquetes, realizadas nos últimos meses (início
de 2002), mostram que os produtos considerados ambientalmente corretos
podem seduzir rapidamente o consumidor brasileiro. A disposição
em verificar os rótulos dos produtos, rejeitar mercadorias
danosas ao meio ambiente, evitar transgênicos, optar por produtos
orgânicos, selos verdes e lâmpadas mais eficientes seduz
mais de 30% da população, conforme apareceu claramente
na pesquisa "O que o brasileiro pensa do meio ambiente e do consumo
sustentável", realizada pelo Ibope para o Ministério
do Meio Ambiente (MMA) e Instituto de Estudos da Religião (ISER),
e divulgada em fevereiro de 2002.
Uma enquete virtual, feita pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF),
entre outubro e dezembro de 2001, sobre consumo de produtos certificados
pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC) recebeu 1.601 respostas dos
internautas, entre os quais 1407 disseram ser consumidores potenciais
de produtos florestais certificados, porque eles "protegem a natureza".
Outros 128 internautas impuseram uma condição econômica,
dizendo que comprariam tais produtos "apenas se fossem mais baratos".
Esta barreira do preço, que sempre manteve boa parte dos consumidores
de classe média e baixa do lado de fora dos entrepostos naturalistas,
tende a cair, com a produção em larga escala de mercadorias
ambientalmente corretas e com novas tecnologias de produção.
O mercado começa a descobrir que tais produtos não precisam
ser artesanais, nem custar muito mais do que seu similar "sujo".
A revisão dos sistemas de produção para certificação
ou obtenção de selos verdes e padrões ISO 14000
demonstrou aos empresários, que muitos dos seus custos de produção,
na verdade, podem ser reduzidos. A economia de água, energia
e matérias-primas através da racionalização
do uso vem surpreendendo muita gente, assim como as possibilidades
de reciclagem e reaproveitamento de insumos e resíduos.
E agora existe até a possibilidade de obter compensações,
através dos esforços para promover o consumo sustentável
esboçados pelo governo. O Ministério do Meio Ambiente
(MMA) está fazendo um cadastro voluntário de empresas
com produtos ou processos ambientalmente corretos e sustentáveis
e deve transformar as empresas cadastradas em fornecedores preferenciais
dos órgãos de governo. Feiras, rodadas de negócios
e bazares de produtos verdes se multiplicam por todo o país,
abrindo mercados junto a um consumidor pouco fiel a marcas. Por outro
lado, denúncias e manifestações, contra os transgênicos,
em especial, encontram eco junto a uma população alarmada
com as notícias de vacas e cabras loucas, provenientes da Europa.
A opção pelo consumo sustentável não fica
somente nos produtos em si, mas chega também às embalagens
e disposição dos resíduos. Na mesma pesquisa
do MMA/Iser, acima citada, 59% dos entrevistados garantiram evitar
jogar produtos potencialmente tóxicos no lixo doméstico,
enquanto 44% se declararam consumidores de produtos com embalagens
recicláveis.
A predisposição de rejeitar os descartáveis sintéticos
não é só brasileira. Numa decisão inédita
para um país em desenvolvimento, na semana passada, o Ministério
do Meio Ambiente de Bangladesh resolveu proibir as sacolas de plástico,
feitas de polietileno e utilizadas para carregar mantimentos e compras,
voltando atrás no tempo, reativando a produção
de sacolas de juta. A decisão é ambiental, já
que milhões de sacolas plásticas entopem os esgotos,
canais e contaminam os rios Buricanga e Dhaka, que circulam numa região
com 10 milhões de pessoas. Mas também é sócio-econômica,
na medida em que a reativação da produção
de sacolas de juta significa a reabertura de antigos postos de trabalho
e oficinas artesanais.
A influência do consumidor do Terceiro Mundo sobre bens de consumo,
afinal, tende a não se manifestar da mesma forma que nos mercados
europeu e norte americano, onde os boicotes são uma grande
arma política e podem realmente falar alto. Aqui, como em Bangladesh,
a mudança talvez seja mais discreta, sem piquetes nos supermercados,
mas com um pé numa tradição ainda não
esquecida, de preferir produtos naturais, e outro numa tendência
de futuro, de escolher as compras com base no impacto ambiental por
elas causado.
Fonte: www.estadao.com.br