O
que fazer com tanto lixo?
Por: Patrícia Blauth*
O destino do lixo é um dos maiores problemas das cidades.
Do lixo que chega a ser coletado no Brasil, mais de 75% é despejado
em lixões, onde não recebe nenhum tratamento que diminua
seu impacto no ambiente. Aí gera poluição do
solo, da água subterrânea e do ar, degrada a paisagem
e atrai uma população enorme de pessoas excluídas
do mercado de trabalho - estima-se que um milhão de pessoas
vivam da catação de resíduos nas ruas e nos lixões
brasileiros! Na cidade de São Paulo, que não possui
lixões "oficiais", mas aterros sanitários, o problema
persiste. Considerando a lenta degradação (lenta mesmo!)
dos resíduos, o lixo vai ocupando rapidamente todo o espaço
disponível. Em pouco tempo não caberá mais lixo
nos nossos dois aterros! E a cidade não possui muitas áreas
disponíveis onde despejar o lixo gerado - mais de 1 kg por
pessoa por dia!
O que fazer, então, com tanto lixo? Se analisarmos atentamente,
veremos que é basicamente um conjunto de coisas boas no lugar
errado. Nesse sentido, aumentam as iniciativas de separação
de resíduos para reciclagem e/ou compostagem, ou seja, alternativas
que tratam os resíduos não mais como lixo, mas como
matéria-prima passível de recuperação.
Programas de coleta seletiva, do poder público e de entidades
da sociedade civil, inclusive de cooperativas de catadores (cada vez
mais organizadas no país), vêm contribuindo sobremaneira
para diminuir o lixo, com benefícios ambientais, sociais, educativos
e econômicos.
Reciclar resíduos, porém, é como "limpar o leite
derramado", uma tentativa de devolver ao ciclo produtivo os recursos
que extraímos do ambiente, muitas vezes de modo excessivo e
irracional. Além disso, convém lembrar que a reciclagem
envolve processos industriais, que consomem água e energia,
e também poluem. Sem contar que muitos materiais descartados
não são técnica ou comercialmente recicláveis
no país. O que podemos fazer, por exemplo, com o isopor?
Além de pensarmos num fim
para o lixo, precisamos considerar, seriamente, seu começo.
Isto é: de onde vem tanto lixo? Tudo o que usamos é
realmente necessário? Documentos "ambientais", como a Agenda
21, apontam que a diminuição da quantidade de lixo depende
da adoção de alguns passos básicos - os três
Rs - na seguinte ordem:
1) redução no consumo e no desperdício;
2) reutilização de produtos, e (por último)
3) reciclagem de materiais.
Reduzir o consumo - evitar a produção de lixo - certamente
não é fácil na nossa sociedade urbano-industrial,
em que o avanço tecnológico, a propaganda e, fundamentalmente,
a desagregação das relações familiares
e comunitárias contribuem para um estilo de vida fortemente
consumista. Mas esse desafio deve ser enfrentado se quisermos uma
sociedade efetivamente sustentável, num planeta com recursos
preciosos e finitos. Pois, como me disseram uma vez: "reciclar
é pedir desculpas à natureza, enquanto reduzir é
não ofender em primeiro lugar".
Patrícia Blauth é bióloga
e consultora de educação e resíduos sólidos
Fonte: Revista Senac.sp – www.sp.senac.br